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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O que significa amar verdadeiramente uma pessoa?

Houve um tempo em que eu achava saber a resposta: significa que eu iria pensar em Savannah mais do que em mim mesmo, e passaríamos o resto de nossas vidas juntos. Não seria difícil. Ela me disse certa vez que a chave para a felicidade é ter sonhos realizáveis, e os dela não eram nada fora do comum. Casamento, família... o básico. Isso significa que eu teria um emprego estável, uma casa com cerca branca e uma minivan ou SUV grande o suficiente para levar nossos filhos à escola, ao dentista, ao treino de futebol ou aos recitais de piano. Dois ou três filhos – ela nunca foi clara a respeito, mas meu palpite é que quando chegasse a hora, ela deixaria a natureza seguir seu curso e Deus tomar a decisão. Ela era assim – religiosa, quero dizer – e suponho que esse tenha sido um dos motivos pelos quais me apaixonei por ela. Independentemente do que acontecesse em nossas vidas, eu me imaginava ao fim do dia deitado na cama ao lado dela, nós dois abraçados enquanto conversávamos e ríamos, perdidos nos braços um do outro.
Não parece tão absurdo, certo? Quando duas pessoas se amam? Foi também o que pensei. E, enquanto uma parte de mim ainda quer acreditar que isso seja possível, sei que não vai acontecer. Quando eu for embora de novo, nunca mais vou voltar.
Por enquanto, porém, vou sentar-me na encosta que dá vistas à fazenda e esperar que ela apareça. Ela não vai me ver, é claro. No exército, você aprende a se misturar com a paisagem, e eu aprendi muito bem, pois não quero morrer em uma vala estrangeira no meio do deserto iraquiano. No entanto, tive de voltar a esta cidadezinha montanhosa na Carolina do Norte para descobrir o que aconteceu. Quando alguém termina algo mal resolvido, sente um desconforto, quase uma dor, até descobrir a verdade.
Porém, estou certo de uma coisa: Savannah nunca saberá que estive aqui hoje.
Parte de mim dói ao pensar que ela está tão perto e eu não posso tocá-la, mas nossas histórias seguiram caminhos diferentes. Não foi fácil aceitar essa verdade simples, pois houve um tempo em que nossas histórias eram uma só, mas isso aconteceu seis anos e duas vidas atrás. Nós dois temos lembranças, é claro, mas aprendi que as memórias podem ter uma presença física, quase viva, e nisso Savannah e eu também somos diferentes. Enquanto as lembranças dela são estrelas no céu noturno, as minhas compõem o assombrado espaço vazio entre elas. E, ao contrário dela, sinto o peso de perguntas que já me fiz mil vezes desde nosso último encontro. Por que fiz aquilo? Faria tudo de novo?
Fui eu, veja bem, quem terminou tudo.
Nas árvores ao meu redor, as folhas estão apenas iniciando sua lenta mutação para o vermelho fogo, brilhando como o sol que espreita ao longe no horizonte. As aves gorjeiam para a alvorada, o ar está perfumado com aroma de pinho e terra, diferente da água salgada da minha cidade natal. De repente, a porta da frente se escancara e eu a vejo. Apesar da distância entre nós, prendo a respiração enquanto ela invade o dia. Ela se espreguiça antes de descer os degraus da entrada e dirigir-se para a lateral da casa. Savannah atravessa a porteira e segue em direção ao pasto à sua frente, que reluz como um oceano verde. Um cavalo a saúda, outro também, e meu primeiro pensamento é que Savannah parece pequena demais para se mover tão facilmente entre eles. Mas ela sempre ficou confortável em meio aos cavalos, e eles com ela. Uma meia dúzia de animais mordisca a grama ao pé da cerca, a maioria quarto de milha, e Midas, seu cavalo árabe negro com meias brancas, está apartado. Montei com ela uma vez, e com sorte não me feri. E, enquanto eu me agarrava com todas as minhas forças ao cavalo, lembro de pensar que ela ficava tão relaxada na sela, que era como se estivesse assistindo televisão. Savannah se detém um momento para cumprimentar Midas. Ela esfrega o nariz dele sussurrando algo e acaricia as ancas do cavalo, que fica de orelhas em pé quando ela se vira e parte para dentro do celeiro.
Ela desaparece e ressurge carregando dois baldes – aveia, acho. Pendura nas estacas, e um par de cavalos trota em sua direção. Savannah se afasta para dar passagem e observo seu cabelo esvoaçar na brisa. Ela pega a sela e a rédea. Enquanto Midas come, ela o prepara para cavalgar, e logo depois o conduz da pastagem para as trilhas na floresta, exatamente como fez seis anos atrás. Sei que não é verdade – eu a vi de perto no ano passado e notei as primeiras rugas surgindo ao redor dos olhos – mas o prisma pelo qual a vejo continua imutável. Para mim, ela sempre terá vinte e um anos e eu, vinte e três. Eu servia na Alemanha; ainda não tinha ido a Fallujah ou Bagdá, nem recebido a carta dela, que li na estação de trem em Samawah nas primeiras semanas de campanha; ainda não tinha voltado para casa por causa dos eventos que mudaram o rumo da minha vida.
Hoje, aos vinte e nove anos, às vezes me pergunto sobre as escolhas que fiz. O exército se tornou a única vida que conheço. Não sei se deveria estar arrependido ou satisfeito por isso; a maior parte do tempo oscilo, depende do dia. Quando as pessoas perguntam, digo que sou um peão, e é exatamente isso que quero dizer. Ainda vivo em uma base na Alemanha, tenho cerca de mil dólares de economias e não saio com uma mulher há anos. Não surfo como antes nos dias de licença. Nas folgas, dirijo minha Harley para o sul e para o norte, dependendo do meu humor. A Harley foi a melhor coisa que já comprei, embora lá custe uma fortuna. É ideal para mim desde que me tornei um tipo solitário. A maioria dos meus camaradas abandonou o serviço, mas eu provavelmente serei enviado de volta ao Iraque nos próximos meses. Pelo menos, esses são os rumores que circulam na base. Quando conheci Savannah Lynn Curtis – para mim, ela será sempre Savannah Lynn Curtis –, não poderia prever o rumo que minha vida tomaria, nem acreditava que faria carreira no exército.
Mas eu a conheci; e é isso que torna minha vida atual tão estranha. Eu me apaixonei por ela enquanto estávamos juntos, e me apaixonei ainda mais nos anos em que ficamos separados. Nossa história tem três partes: um começo, um meio e um fim. Embora seja assim que todas as histórias se desenrolam, ainda não consigo acreditar que a nossa não durará para sempre.
Reflito sobre essas coisas, e como sempre, nosso tempo juntos retorna à minha mente. Relembro como tudo começou, pois agora essas memórias são tudo o que me resta.

Te amo pra sempre!

Fonte:Trecho de Querido John, de Nicholas Sparks