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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A verdadeira família.

 Certa vez eu conheci um menino que havia vivido uma vida muito difícil, tudo começou com seu nascimento, sua família era diferente, todas as vezes que a noite caia apenas sua mãe voltava do trabalho, era sua rainha, única naquela infância que não conhecia ainda as armadilhas da vida, foi crescendo e observando que nos reinos vizinhos sempre existia um rei, aos poucos foi se perguntando porque o seu reino era tão desigual, precisava saber quem era aquela peça que estava faltando no seu quebra-cabeças, porque Deus era tão injusto, ele até arriscava, e entregava o rabisco do dia dos pais ao homem que tentava suprir aquela falta, sem sucesso, pois não tinha o menor dom para tal tarefa, o menino cresceu e soube que haveria de aceitar aquela realidade para sempre.
 Aos 15 anos resolveu exigir de sua mãe que ela lhe contasse quem era o sujeito que por anos habitara a sua imaginação mas que nem por foto havia sido apresentado, precisava entender porque por tantas vezes sua mãe chorava ao perceber o quanto ele estava destinado a conhecer uma vida tão diferente das demais. No primeiro momento em que o garoto conheceu o sujeito, tudo estava muito estranho, veio com um advogado de guarda-costas e estavam os 3, mulher, homem e garoto, prontos para colher o sangue, o garoto não sentiu nada, a não ser um espanto por tal homem ser tão diferente do que ele imaginava, fora isso era um estranho para ele, se tivessem se encontrado por acaso na rua, o sentimento teria sido igual.
 O inevitável aconteceu, os 3 tinham um laço genético, o garoto estava finalmente diante de uma nova perspectiva, iria conhecer um outro lado de si mesmo que ele tanto imaginava, como castigo teve que se habituar a uma palavra muito estranha pra ele, o homem estranhava porque após meses de convivência, ainda não tinha sido chamado de PAI, o garoto se acostumou com a palavra meio a contragosto embora fosse necessário. Certo dia o senhor decidiu levar o garoto para conhecer como era sua vida, o garoto sentiu um enorme frio na barriga, pois o senhor já era casado quando conheceu a mãe do garoto e ainda tinha outros 3 filhos, como ele seria recebido por essa família que também estava abalada com aquela situação? Tudo foi foi muito estranho, todos olhavam pra ele como se fosse um ser de outro mundo, o garoto tentou conquistar a confiança de todos ali, quando deveria ter sido o contrário, afinal de contas tudo era muito mais novo para ele, mas consciente de sua maturidade fez o papel que não era dele. Com o passar do tempo aquela família foi se desestruturando, o garoto quase um homem, ainda não entendia porque aquela família era tão imperfeita, eles tinham tudo o que o garoto julgava necessário para que existisse uma família feliz.

 Começou então a recair sobre ele um sentimento de culpa, ele se questionava se ele  não tivesse surgido a estranha família continuaria verdadeiramente unida, e optou então por se afastar um pouco, mas quando voltava as coisas estavam piores, e esposa de seu pai se comportava de maneira mais estranha ainda. Mas o garoto era apenas mais uma vítima de toda aquela situação, porque carregava tanta culpa nas costas? Por que tinha de ser grato por ter sido aceito naquela casa principalmente pela mãe de seus meio irmãos, se era obrigação do pai proporcionar uma família para ele? O garoto ainda permaneu naquele ambiente hostil por mais alguns anos, vendo aquela família cada vez mais, deixar de ser uma família, os seus irmãos foram casando, os problemas emocionais de cada um foram surgindo com mais intensidade, e por fim acabou o casamento de seu pai, que já não existia a muito tempo, ele ainda insistiu em permanecer mais um pouco, mas era inevitável, assim como seus irmãos ele também se afastou, com a certeza de que dificilmente sentiriam a sua falta naquele lugar.

 Hoje ele é um homem, até chegar aqui ainda viveu outras experiências que o marcaram, mas toda essa situação foi essencial para que ele entendesse o verdadeiro conceito de família, havia presenciado uma família que tinha todos os membros mas que tinha mais problemas estruturais, ele percebeu que aquele nunca foi o seu lugar, e que sangue é apenas um fluído que corre nas veias, o verdadeiro amor, pode vir dos lugares mais inusitados, amigos por exemplo podem ser sua família de verdade, esse amor não pode ser transferido por uma ação judicial, muito menos por um exame de DNA, surge de dentro do coração, do fundo da alma, e onde não existe esse amor, não existe nenhum laço. A verdadeira família do garoto esteve presente o tempo todo, sempre esperando por ele em casa, pronta para apoiá-lo quantas vezes fosse necessário, e essa família se chama MÃE.

2 comentários:

Unknown disse...

muito bom o texto rs

Tamillys C. disse...

Olá,gostei do espaço!


Bjs